A força do saneamento rural no Ceará com o Projeto Águas do Sertão

out, 2025

O Programa Águas do Sertão representa um marco para o saneamento rural no Brasil. Ao unir financiamento internacional, tecnologia social e participação comunitária, mostra que é possível transformar a realidade de regiões historicamente vulneráveis, como o semiárido cearense.

Por que a universalização do saneamento é crucial no sertão cearense?

Apesar do saneamento básico ser um direito fundamental, áreas rurais brasileiras, especialmente no semiárido nordestino. No Brasil, mais de 30 milhões de pessoas vivem em comunidades rurais, muitas delas sem acesso a serviços básicos de água e esgoto, oq eu causa:

  • Disseminação de doenças de veiculação hídrica, afetando principalmente crianças e idosos.
  • Desigualdade no acesso à água, que obriga famílias a percorrer longas distâncias;
  • Prejuízos à produção agrícola e ao desenvolvimento local;
  • Danos ambientais pela contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos e do solo.

Para enfrentar esse desafio, o Ceará vem se destacando com o Programa Águas do Sertão (PAS) da Secretaria das Cidades do Governo do Estado do Ceará, uma iniciativa inovadora que une financiamento internacional, gestão pública e protagonismo comunitário.

O que é o Programa Águas do Sertão?

Lançado em 2021, o Programa Águas do Sertão é uma ação do Governo do Ceará voltada à universalização do saneamento rural. O objetivo é ampliar o acesso das famílias à água potável, promover o tratamento adequado de esgoto e fortalecer a gestão comunitária, respeitando a realidade do semiárido cearense.

O programa é financiado por meio de um crédito de 50 milhões de euros do KfW – Banco de Desenvolvimento Alemão, com contrapartida estadual de 12,5 milhões de euros e apoio da União Europeia através do Latin American Investment Facility (LAIF). A execução é coordenada pela Secretaria das Cidades, em parceria com a CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará).

Eixos de atuação

O Águas do Sertão atua em quatro grandes frentes:

  1. Gerenciamento e governança: coordenação de obras, monitoramento, controle de qualidade e licenciamento ambiental para abastecimento de água e esgotamento sanitário;
  2. Abastecimento de água: reabilitação, implantação e ampliação de sistemas de captação, tratamento e distribuição, com análises de qualidade constantes para garantir a segurança no consumo;
  3. Esgotamento sanitário: soluções adaptadas à realidade rural, como sistemas simplificados de tratamento e alternativas descentralizadas;
  4. Educação socioambiental e fortalecimento comunitário: capacitação dos moradores, campanhas nas escolas e ações de conscientização para o uso racional da água e a preservação dos recursos naturais.

Modelo de gestão compartilhada: SISAR

Um dos diferenciais do programa é o modelo de gestão integrada e comunitária, conhecido como SISAR (Sistema Integrado de Saneamento Rural) , que completará 30 anos em janeiro de 2026.

Nesse modelo, as próprias comunidades participam ativamente da operação e manutenção dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Cada localidade elege um operador responsável, e uma central de apoio técnico oferece suporte permanente nos casos mais complexos, como a substituição de um conjunto elevatório motor-bomba por exemplo.

Além disso, são realizadas campanhas socioeducativas, reuniões periódicas e treinamentos para fortalecer a autonomia e empoderamento dos moradores das comunidades rurais cearenses.

Esse formato tem se mostrado fundamental para a sustentabilidade a longo prazo, já que evita o abandono das infraestruturas e demais equipamentos por falta de manutenção adequada.

Desafios no campo, mas que geram resultados

Levar saneamento ao meio rural exige a superação de obstáculos logísticos e sociais importantes como:

  • Acesso às comunidades: muitas localidades estão em áreas remotas, acessíveis apenas por estradas carroçáveis, o que encarece e atrasa as obras;
  • Manejo de resíduos sólidos: ainda é comum a queima do lixo ou o descarte inadequado, devido à ausência de coleta regular;
  • Regularização fundiária: parte das terras não possui documentação cartorária, o que atrasa a implantação dos sistemas;
  • Profissionais especializados: há escassez de profissionais técnicos dispostos a atuar em áreas rurais, principalmente em áreas como energias renováveis e tecnologias sociais.

Entretanto, os resultados já começam a ser sentidos pelas comunidades beneficiadas:

  • Redução de doenças ligadas à água contaminada, sem nenhum tipo de tratamento;
  • Mais tempo disponível para famílias, especialmente mulheres e crianças, antes responsáveis por buscar água em longas distâncias para os afazeres domésticos;
  • Preservação dos mananciais e do solo por meio do tratamento adequado de esgoto;
  • Fortalecimento do senso de pertencimento e cidadania, já que a população participa ativamente do modelo de gestão.

No município de Meruoca, por exemplo, mais de 850 famílias do Complexo Camilos e São João serão beneficiadas com a implantação da rede de distribuição de água tratada, melhorando significativamente as condições de saúde e qualidade de vida da população, atualmente, a obra encontra-se em fase de conclusão.

Perspectivas e continuidade

O Programa Águas do Sertão foi inicialmente previsto até junho de 2025, mas já teve sua execução estendida até dezembro deste ano. Após esse prazo, está prevista uma transição para o Instituto Agropólos, que dará continuidade aos trabalhos.

O grande desafio é assegurar que os sistemas se mantenham sustentáveis sem depender exclusivamente de novos financiamentos internacionais. Para isso, será essencial fortalecer a gestão comunitária, a capacitação local e a articulação entre o governo, a sociedade civil e os parceiros técnicos.

A atuação da KL Engenharia

A KL Engenharia desempenha um papel estratégico na execução do programa Águas do Sertão, garantindo que o projeto avance com qualidade técnica, eficiência e impacto social.

Atuamos em diferentes frentes, conectando engenharia, gestão e acompanhamento das obras dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário em campo.

  • Gerência de Obras (GOPAS): Coordena o planejamento e a execução das construções de sistemas de abastecimento e esgotamento sanitário;
  • Gerência de Monitoramento e Controle (GEMON): Assegura que os processos sigam padrões de qualidade, além de promover ações de educação socioambiental junto às comunidades beneficiadas, licenciamento ambiental e regularização fundiária;
  • Equipe Multidisciplinar: Engenheiros, técnicos, administradores e profissionais sociais atuam lado a lado, seja no escritório ou em campo, garantindo que cada etapa – do diagnóstico à entrega final do empreendimento – seja realizada com eficiência e qualidade;
  • Apoio à Comunidade: Acompanhamos reuniões com moradores, o desenvolvimento do projeto é participativo, bem como participamos do processo de escolha dos operadores locais, inclusive com suporte na fase de operação pré-assistida, incluindo testes de água e treinamentos  técnicos.

Além de superar desafios como distâncias extensas, regularização fundiária e logística de insumos, asseguramos que todos os sistemas implementados sejam licenciados, um diferencial importante no saneamento rural, onde muitas vezes esse processo é negligenciado.

Com esse trabalho integrado, entregamos infraestrutura, promovendo saúde, dignidade, cidadania, equidade de gênero e desenvolvimento sustentável. Sua experiência pode inspirar novas políticas públicas e ser replicada em outras regiões do país.